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20/10/2010

Beleza Roubada


Os corredores da escola estavam vazios. Eu não gostava mais de estudar nesse internato. Era assustador. Aqui, onde eu estou com os pés, dizem que foi o lugar onde uma freira se suicidou. Também conta a lenda que qualquer pessoa que viesse aqui, morreria. Mais especificadamente, se mataria.
Não se sabe o porquê dessa história, nem o porquê que quando olharam pela fechadura só se viam os pés descalços da velha freira e um aviso escrito “ eu não agüentei ”.
Estou aqui porque eu não agüento mais também. Toda a noite eu escuto gritos de medo e pavor. Meus pais não querem me tirar desse internato, diziam que era um bom lugar e que eu estava ficando louca, inventando coisas quando contava do que ouvia só porque uma vez apanhei de cinta por uma freira por ter errado uma questão de inglês.
Não vou deixar um aviso. Vou deixar esta carta, contando a razão disto ter acabado assim.
Começou quando eu cheguei pela primeira vez aqui. Eles me trataram bem no primeiro dia, mas depois tive que lavar banheiros de madrugada. Se contasse para meus pais, eles diriam que é mentira ou achariam uma idéia boa me punir por algo que nem eles saberiam dizer o que é.
Eram 5 da manhã de uma quinta-feira e eu estava lavando meu ultimo banheiro.
Levantei e olhei-me no espelho. Só consegui ver uma menina cansada. Abaixei a cabeça e lavei o rosto.
Ergui de novo a cabeça e mais uma vez me olhei no reflexo do espelho, que agora refletia uma mulher.

Meu reflexo havia sumido. Só conseguia ver ela e seus olhos vermelhos com sua boca e seus dentes cheios de sangue com uma cara demoníaca.
Ela engoliu o sangue e passou a mão no meu pescoço. Eu só sentia seus dedos frios espalhando o sangue por meu corpo.
Ela de repente apertou minha nuca e eu pulei de susto.
- Um belo rosto, belos olhos, belo cabelo. Eu sempre quis ser assim. Loirinha e olhos verdes, mas não. Eu tive de conviver com meu cabelo horroroso, minhas espinhas e os meninos debochando de mim a cada vez em que eu acordava nesse internato com uma imperfeição a mais no rosto.
Desde então, o plano dela de roubar a minha beleza foi posto em prática. Perdia meus cabelos cada vez mais. Toda a vez que escovava ele, caiam milhares de fios. Estava ressecado, assim como a minha pele.
Aos poucos eu parecia envelhecer.
Toda a madrugada a encontrava naquele banheiro, cada dia mais linda.
Só não entendo porque justo eu, e acho que nunca vou entender.
Isso foi me enlouquecendo cada vez mais. Eu perdia meu brilho aos poucos e não suportava a ver linda e radiante.
Mas agora eu entendo. Agora eu sei por que a freira se suicidou aqui. Ela era linda, e aos poucos, assim como eu, estava ficando cada dia mais feia, enquanto uma moça, nossa enfermeira, cada vez mais linda. Fazia sentido.
Eu iria colocar a corda em meu pescoço quando percebi que alguém já tinha feito isso para mim. Meus pés já não estavam mais em contato com o chão. Eu não sentia minha respiração.
O ultimo som que consegui ouvir antes de tudo se apagar foi o de uma risada. Era a risada dela.



2 comentários:

Texts are .. disse...

foda pra caraií *-*
meu teu blog ta arrazando REGINA *--------*

Paula Gomes disse...

aah ' oobg amr . (:

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